Killing Eve: a metamorfose (possível) de Villanelle

Um dos dramas mais populares da atualidade, «Killing Eve», está de regresso à HBO Portugal já esta segunda-feira, 13. Eu já assisti ao primeiro episódio e escrevi sobre isso para a revista Metropolis.

Uma das atrizes britânicas mais promissoras da sua geração, Jodie Comer está de volta, em todo o seu esplendor, na terceira temporada de «Killing Eve». Em 2019, Jodie levou para casa um Emmy e um BAFTA pela sua incrível interpretação da assassina em série Villanelle, pelo que a fasquia está bem lá em cima no momento em que nos preparamos para mais uma incursão na loucura da personagem criada por Luke Jennings. Curiosamente, Villanelle habita simultaneamente a TV e a literatura desde 2018 (com fios temporais idênticos), algo não muito frequente.

Depois de Eve Polastri (Sandra Oh) esfaquear Villanelle no final da primeira temporada, a vilã devolveu o “carinho” no desenlace da segunda com um tiro. Em ambos os finais, as personagens parecem estar indefinidamente no limbo, com igual probabilidade de se matarem ou de se envolverem romanticamente. A obsessão entre as duas é, aliás, o principal motor condutor da trama desde o primeiro instante, sendo que o comportamento da personagem de Jodie Comer é frequentemente infantil e bipolar, logo muito imprevisível. Já Eve, uma agente da qual se esperaria outro tipo de comportamento, não deixa de se sentir atraída pela antagonista, chegando inclusivamente a colaborar com esta na T2. O casal parecia ter tudo para dar certo, não fosse Eve ter percebido que Villanelle a forçou a assassinar alguém.

É um ciclo vicioso, pelo que há uma sensação de déjà vu perante o novo arranque de temporada. Apesar de nos termos despedido de uma Eve inanimada no chão, a verdade é que não há qualquer tipo de mistério em torno da sua sobrevivência. Sabemos que ela está viva, porque a história dificilmente existe sem ela. No trailer, a série avisa logo ao que vem: Eve tenta recompor-se numa rotina banal e Villanelle acredita que a amada morreu e faz o luto da sua maneira muito peculiar. O primeiro episódio concretiza esta ideia, colocando todas as personagens no ponto de partida. Enquanto Carolyn (Fiona Shaw) revela uma forte instabilidade na vida pessoal e profissional, Kenny (Sean Delaney) tenta solucionar o grande mistério dos Doze por conta própria.

Nunca é demais repeti-lo: a interpretação de Jodie Comer é avassaladora. A banda sonora aumenta a tensão, mas é no olhar e na constante inquietação que a personagem sente que vamos balizando os acontecimentos. É percetível o que ela vai fazer ainda antes de o ter feito, num jeito quase amador, mas com um impacto forte na realidade da personagem e de «Killing Eve». E, assim como um “efeito borboleta”, mais cedo ou mais tarde Eve irá sentir o “eco” deste turbilhão de emoções e falta de controlo. É, de certa forma, um lugar-comum, mas que enquanto não atingir o seu fim pleno se vai repetir indefinidamente.

Basicamente, está tudo na mesma e não está. Vai ser difícil esperar uma semana por cada novo episódio, a julgar pela brutal arrancada do primeiro. O final de Slowly Slowly Catchy Monkey roça a surpresa e muda por completo o pressuposto que os restantes 40 minutos tinham criado. «Killing Eve» está sempre na mesma rota, mas os desvios mantêm o interesse e obrigam o espectador a estar atento e adaptar-se. Como o jogo que Villanelle joga com Eve Polastri, já sabemos que tudo acaba mal quando começa bem. E se no processo continuarmos a ser presenteados com uma Jodie Comer ao seu melhor nívela par de Fiona Shaw, a eterna tia Petúnia de Harry Potter  –, «Killing Eve» terá tudo para se estabelecer como um dos maiores dramas no feminino dos nossos dias.

Sara Quelhas

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