Euphoria – Part 1: Rue, a calma depois da tempestade

Desenvolvido em tempos de Covid-19, o especial «Euphoria – Part 1: Rue» é muito diferente daquilo a que nos habituou a season 1. Tive acesso antecipado ao episódio, que tem estreia marcada na HBO Portugal amanhã, 7.

Antes do lançamento da segunda temporada de «Euphoria», e perante a imprevisibilidade da pandemia mundial do Coronavírus, Zendaya regressa para um episódio especial: «Euphoria – Part 1: Rue, Trouble Don’t Last Always». Este é o primeiro de dois episódios, que funcionam como uma ponte entre as duas temporadas e estabelecem o mood do que se avizinha. O estilo é totalmente inesperado, uma vez que destoa por completo do que foi a primeira temporada. No entanto, isso está longe de ser uma desilusão.

Depois de ter sido deixada por Jules (Hunter Schafer) na estação de comboio, Rue (Zendaya) teve uma recaída e colocou tudo em causa. Foi assim a despedida, em 2019. Ainda sem respostas de como irá avançar a narrativa em termos concretos, «Euphoria – Part 1: Rue» é o ponto intermédio que prepara a audiência para o que se avizinha. Isso acontece através de uma melhor perceção de Rue, do que a motivou a pôr tudo em risco novamente e de qual poderá ser o papel de Jules na sua vida.

Em plena véspera de Natal, quando tudo o que a rodeia está em polvorosa e tudo acontece de forma intensa, Rue tem uma pausa. Um momento longe de tudo, onde o diálogo se sobrepõe a tudo o resto, sem “euforias”.

Credit: Eddy Chen/HBO

A contracena é composta por Ali (Colman Domingo), que entrega uma das interpretações mais bem conseguidas de toda a série. No vazio que se cria entre a temporada que terminou e aquela que não avança tão cedo, há um instante de pausa onde Ali e Rue podem brilhar. Sem artifícios, brilhos ou percursos narrativos mais concetuais. Longe do ruído, «Euphoria – Part 1: Rue» encontra a serenidade para tornar ainda mais complexa a sua protagonista, o meio que a rodeia e as questões transversais que espelham a sua própria realidade.

Não se fala só de Rue ou de Jules, há o contexto social, o passado desconhecido de Ali e uma sucessão de comentários que procuram impactar através da força da mensagem. Com uma realização mais sóbria, também derivado à situação apresentada pelo episódio, o impacto deixa de ser visual e ganha contornos simplistas e mais diretos. Sem o “conflito” sonoro habitual, é mais fácil ouvir Rue e tudo o que a rodeia. A perceção acontece sem falhas, com noção clara do que é realidade e do que é imaginação.

Uma coisa é certa: o regresso de «Euphoria» não é o que esperávamos. Não há o aparato de cores e luz que marcou a primeira temporada, entre o abuso de drogas e de emoções, nem reencontramos as personagens centrais. Mas isso não significa que seja um episódio para esquecer, pelo contrário. O argumento é bem estruturado e as interpretações são bem conseguidas, multiplicando a série e as suas personagens em camadas, atribuindo profundidade ao que tantas vezes fica “esquecido” quando há demasiadas distrações.

É preciso, ainda assim, ter em consideração que este foi um episódio desenvolvido em tempos de Covid-19 e, como tal, sujeito a limitações.

Embora a série, lançada em 2019, tenha passado ao lado das principais categorias de Drama, ficando-se pelas técnicas, Zendaya bateu a concorrência e arrecadou o Emmy de Melhor Atriz em Série Dramática em setembro. A concorrência era de peso, com nomes como Olivia Colman (The Crown), Jennifer Aniston (The Morning Show) ou Jodie Comer (Killing Eve). Aos 24 anos, a atriz tornou-se a mais jovem de sempre a vencer naquela categoria e apenas a segunda atriz negra, depois de Viola Davis, a primeira, em 2015. Zendaya começou por ser um dos rostos mais populares do Disney Channel, mas é atualmente muito mais do que isso.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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