Euphoria: no meio da euforia, a escuridão

Cerca de um ano e meio depois do final da primeira temporada – e com dois episódios especiais pelo meio – «Euphoria» está finalmente de regresso à HBO Portugal. O primeiro episódio da segunda temporada tem estreia agendada para amanhã, 10 de janeiro.

Foi revelação em 2019 e limpou, no processo, três Emmys, com particular destaque para a vitória de Zendaya na competitiva categoria de Melhor Atriz em Série Dramática. Da surpresa à confirmação, a série criada por Sam Levinson regressa agora com nova exigência e com as expectativas em alta por parte do público. Se certos acontecimentos faziam prever a redenção de algumas personagens, a verdade é que «Euphoria» depressa revela que não há caminhos fáceis e os protagonistas continuam longe de vestir a capa de heróis.

Com ousadia e sem qualquer pudor, «Euphoria» mantém a sua identidade bem vincada desde cedo, com um fio condutor bem unido à primeira temporada, e com uma evolução doseada por parte das personagens. Também a banda sonora volta a estar a um nível elevado, ajudando a construir a “euforia” de luzes e cores que habita a série da HBO. No entanto, onde há luz também se encontra escuridão, sendo que o lado mais negro dos intervenientes da ação é colocado em evidência desde muito cedo – e a partir daí a tendência é para piorar.

O arranque é brutal e estabelece o tom da nova temporada; tanto em flashbacks como na ação presente de «Euphoria», que enceta em pleno fim de ano. Com um ligeiro “abanão” nos núcleos centrais da série da HBO, storylines secundárias que se cruzam e outras que atingem o seu auge com relativa rapidez, fazendo antever um argumento bem estruturado nos episódios seguintes.

Fezco (Angus Cloud) e Cal (Eric Dane) são duas das personagens que têm direito a um espécie de história de origem pouco convencional, criando uma ligação forte e declarada entre o seu passado e a posição em que os encontramos no presente. Sem os desculpabilizar pelos seus atos, «Euphoria» volta a colocar em evidência como o meio e as diversas interações que mantemos desde cedo podem afetar a nossa personalidade e escolhas de vida na idade adulta.

Por sua vez, Nate (Jacob Elordi) mostra outra faceta, novamente pouco convencional, e Lexi (Maude Apatow) cresce imenso na narrativa, tendo a possibilidade de assumir um papel de inesperado protagonismo. Há um lado meta na construção de «Euphoria», que coloca as personagens a falar diretamente com o espectador, intensificando a relação entre audiência e acontecimento, para que nada nos deixe indiferentes no conforto do sofá.

Naturalmente, é preciso falar de Rue (Zendaya). A protagonista de «Euphoria» tem uma jornada bastante acidentada na segunda temporada, que a coloca em cheque em vários momentos, e que pode pôr em risco as pessoas de quem mais gosta. O lado egoísta e mais obscuro de Rue é um dos motores da série, assumindo particular relevo no arranque da nova temporada, numa condução desenfreada rumo ao abismo.

Uma das séries mais poderosas da atualidade no streaming, «Euphoria» é uma trama sem consensos que procura uma reação no seu público e uma abordagem sem preconceitos e direta à ferida de alguns temas muito polémicos. Sem julgar personagens que se sentem julgadas, e sem combater à partida lutas que a audiência e as próprias personagens querem ver derrotadas – deixando que a tragédia aconteça se caso disso –, «Euphoria» desafia o lado mais colorido da vida e das sensações. Mas até no lado mais obscuro podem ser desvendadas novas cores.

A segunda temporada de «Euphoria» estreia amanhã, 10, na HBO Portugal. Integram o elenco Hunter Schafer, Nika King, Algee Smith, Sydney Sweeney, Alexa Demie, Barbie Ferreira, Javon Walton, Dominic Fike, Storm Reid, Austin Abrams, Minka Kelly e Dominic Fike.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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