Na Metropolis número 117, escrevo sobre a série do momento: «The Last of Us». Na segunda temporada, reencontramos personagens que sobreviveram ao pior… apenas para descobrirem que o mais difícil ainda está por vir: lidar com as consequências. Numa realidade onde a compaixão pode ter um preço elevado e o ódio se apresenta como justiça, o impacto de cada ação torna-se inescapável.
A adaptação do jogo The Last of Us para a televisão, pela mão da Max, não era algo fácil de imaginar. Sendo tão popular, como seria recebida a ousadia de o adaptar? O jogo de Neil Druckmann, uma obra-prima que explora a brutalidade do Apocalipse através de uma história pessoal e devastadora, parecia impossível de transportar para o mundo da TV sem perder a sua essência. E, no entanto, «The Last of Us» não só conseguiu fazer justiça à obra original, como acrescentou novas dimensões emocionais. Parte da magia está na forma como o Apocalipse, com os seus infetados e a luta pela sobrevivência, serve de cenário para uma narrativa muito mais íntima, centrada nas vidas de Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey). Dois estranhos, antissociais, que acabam por se tornar a casa um do outro.
O sucesso da adaptação de «The Last of Us» deve-se, em grande parte, ao trabalho de duas figuras-chave: Craig Mazin («Chernobyl») e Neil Druckmann. A colaboração entre os dois não só garantiu que a série permanecesse fiel à essência do jogo, como também que crescesse e se adaptasse ao formato televisivo. Este tipo de parceria já tinha provado ser eficaz noutras grandes adaptações, nomeadamente «A Guerra dos Tronos». No caso da série baseada nos livros de George R.R. Martin, a colaboração entre o autor e os criadores foi fundamental para desenvolver uma história de sucesso, sobretudo nas temporadas iniciais – o seu afastamento coincidiu com as maiores críticas à série.
Por sua vez, um dos pilares emocionais de «The Last of Us» é a relação entre Joel e Ellie. A dinâmica entre as personagens vai muito além da típica fórmula de “pai e filha” ou “protetor e protegida”. A química entre a dupla, que se desenvolve lentamente ao longo da primeira temporada, mantém os espectadores atentos e envolvidos, sem nunca cair no óbvio ou em clichês. A narrativa estrutura-se de forma bem conseguida, ao mostrar como o relacionamento entre Joel e Ellie evolui de forma orgânica, como resultado de acontecimentos, sendo que cada interação, cada olhar e cada silêncio têm um peso profundo e comunicam mais do que qualquer longo diálogo.
Como tal, o que torna esse vínculo tão especial é a forma como a série explora a complexidade dos sentimentos que não se expressam diretamente. Enquanto Joel tenta manter a distância emocionalmente, Ellie aproxima-se de uma forma quase impercetível, marcada pela simplicidade. Ambos têm um entendimento tácito de que, num mundo pós- apocalíptico, o afeto é uma fraqueza e, portanto, deve ser tratado com cuidado. No entanto, à medida que enfrentam juntos perigos inimagináveis, algo mais profundo começa a desenvolver-se entre ambos, estabelecendo uma relação que desafia as expectativas e convenções.
A sua jornada parece alcançar o clímax na season finale. É o momento em que Joel mente a Ellie sobre os acontecimentos no hospital, que redefine a relação e reacende um conjunto de questões morais e emocionais. A mentira não é apenas uma tentativa de proteger Ellie: é a demonstração de que, no fundo, o Apocalipse fez com que Joel visse o mundo de uma forma distorcida, e ele está disposto a sacrificar até a verdade para manter o que construiu com ela. Cinco anos depois, no arranque da segunda temporada, a mentira de Joel continua a ser a sombra que paira sobre eles, e cujo peso emocional permanece, mesmo no silêncio. Além disso, a dinâmica entre eles está praticamente irreconhecível.
Joel e Ellie, na sua viagem por um mundo devastado, são o reflexo de como o amor e o sofrimento sobrevivem num ambiente que já não permite a ninguém sentir totalmente. A beleza da série está precisamente nessa fusão entre o terror visual e a complexidade emocional. O Apocalipse, em vez de ser um tema central que esgota tudo à sua volta, torna-se o contexto perfeito para explorar o que é mais humano: o medo, a culpa, o amor e a mentira. A ameaça não está apenas nas hordas de infetados, mas no próprio peso de carregar as decisões do passado, as falhas e os arrependimentos.
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