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Divorce: um dos dramas mais humanos da TV regressa com (ainda) mais piada

«Divorce» tem novo episódio na madrugada de 14 para 15 de janeiro, às 3 horas, no canal TVSéries. Com Jenny Bicks, que já tinha trabalhado com Sarah Jessica Parker em «Sexo e a Cidade», como showrunner, a série da HBO apresenta-se de cara lavada e mais otimista.

A vida em «Divorce» continua a não ser só «Sexo e a Cidade», o nome da série que fez a carreira de Sarah Jessica Parker, mas é também muito isso. Com uma linguagem crua e direta ao assunto, a série da HBO volta a colocar os pontos nos i’s no que diz respeito aos dramas familiares, à comédia (inevitável e trágica) e até ao sexo. Em contrapartida, a segunda temporada de «Divorce» apresenta uma realidade um pouco mais leve, ainda que o conflito se mantenha como o combustível desta viagem comandada por Frances (Sarah Jessica Parker) e Robert (Thomas Haden Church) — agora sem bigode, mas nem assim se livra das comparações ao ator Tom Selleck.

Com a aproximação do regresso, parte da curiosidade residia em perceber como a entrada de Jenny Bicks, diretamente para os cargos de produtora executiva e showrunner, ia afetar o ambiente da série, marcadamente pesado na primeira temporada. Jenny Bicks é uma velha conhecida da protagonista Sarah Jessica Parker, uma vez que ocupou diferentes cargos de produção em «Sexo e a Cidade», e não se cruzava com a atriz desde a finale de 2004. Como seria de esperar, a showrunner opta por um tom mais leve e cómico, mas sem desvirtuar toda a dimensão humana que assombra um divórcio e sem medo de tocar mesmo as feridas mais profundas.

Depois dos avanços e recuos na primeira temporada, Frances e Robert assinam finalmente os papéis de divórcio e assumem uma nova rotina. Assim como é imagem de marca de «Divorce», a série não tem medo de abraçar as partes mais aborrecidas do quotidiano, pelo que até as burocracias são visitadas. Contudo, o lado menos glamoroso da vida é equilibrado com momentos mais cómicos, e nem sempre logo à superfície. A série usa os truques da ficção para recolocar o espectador como testemunha principal dos segredos das personagens, sendo que o facto de saber o que se segue funciona como uma ‘ameaça dupla’: deixa o espectador numa falsa posição de vantagem — mesmo sabendo aparentemente mais, não espaca a eventuais surpresas — e tem um efeito cómico inevitável. E as revelações chocantes são frequentes na segunda temporada.

Diane (Molly Shannon) e Dallas (Talia Balsam) voltam a roubar as atenções sempre que surgem no ecrã, confirmando-se como as estrelas de uma série onde não são protagonistas. Deste modo, quando o drama se intensifica, uma das soluções mais frequentes é recorrer a uma delas e ao riso natural que provocam para evitar chegar ao excesso dramático. Também Tom (Charlie Kilgore) e Lila (Sterling Jerins) ganham mais espaço para ‘respirar’, com grande parte das atenções (e problemas) a incidirem sobre os filhos de Frances e Robert — ou a terem origem neles. Tal como na vida real, os filhos são atores fundamentais no divórcio dos pais e «Divorce» encara isso, e vai mais além, não virando a cara ao lado menos bonito dos relacionamentos.

Becki Newton e Steven Pasquale são as principais adições ao elenco neste regresso, sendo inseridos em círculos diferentes da narrativa que, inevitavelmente, acabam por se cruzar. Mais uma vez, «Divorce» troça das expetativas do seu público, pelo que nem sempre é fácil perceber para onde caminha a série criada por Sharon Horgan. Sem grande alarido, e com o discurso a ser super valorizado, a série aposta na humanização das suas personagens e, sobretudo, em torná-las mais próximas e acessíveis ao espectador. Além disso, trata um tema ‘querido’ dos espectadores, o divórcio, bem como os dramas relacionados com ter filhos adolescentes e a luta por recomeçar a vida — ou evitar que ela descambe. Será que vão ser bem-sucedidas?

Artigo publicado originalmente na Metropolis.

 

Sara Quelhas

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