EXTRAS

Dexter: o regresso do filho pródigo (mas vale a pena?)

Sete anos após a season finale de «Dexter», o assassino em série mais “querido” da história da televisão volta com mais 10 episódios. A minissérie da Showtime marca o regresso de Michael C. Hall e do criador/produtor, Clyde Phillips (o responsável pela melhor fase da trama). Será a salvação de um final que deixou muito a desejar, ou uma jogada de marketing destinada a falhar?

Fiz maratona de «Dexter» algures em 2012. Estava acamada, depois de uma operação ao joelho, e passava os meus dias a devorar séries. Nunca vi tantas séries como nessa altura — só parava em caso de necessidade fisiológica. Vi oito temporadas de rajada, mesmo a tempo de ver o episódio final logo no dia a seguir à sua estreia.

Não me lembro de muito, devo confessar, mas recordo quase ao pormenor a desilusão que senti. Na verdade, não acompanhava uma série na totalidade desde que tinha visto «Tru Calling» na TV, algures na adolescência (guardo os DVDs desta série religiosamente desde que os apanhei numa Worten). O entusiasmo depressa se esfumou perante o desfecho sensaborão de um Dexter versão lumberjack. O episódio da oitava temporada, em 2013, é considerado por muitos um dos piores finais da história da TV.

 

Dexter de volta: um pedido de desculpa aos fãs?

Antes de a petição para um novo final de «A Guerra dos Tronos» virar moda, já os fãs de «Dexter» faziam proliferar pedidos de uma nona temporada para dar um final “decente” à narrativa. São vários os exemplos que se encontram pela Internet (como este), com maior ou menor adesão, mas parece que o Showtime finalmente avançou com uma resposta à altura. Uma minissérie de 10 episódios, cuja produção avança em janeiro de 2021 e que deve estrear no final do próximo ano. E com uma novidade que não deixa ninguém indiferente: o showrunner será Clyde Phillips, que abandonou a série depois de quatro temporadas bem-sucedidas para passar mais tempo com a família. De forma abrangente, essas são consideradas as melhores storylines de «Dexter».

Com Dexter a ficar recluso e com uma vida aparentemente banal no meio da floresta, a “salvação” parece fácil. É retirar o protagonista do meio da lenha e devolvê-lo ao seu habitat natural. No entanto, a memória de um seriólico não é propriamente curta, pelo que será preciso fazer muito mais para justificar este regresso. Sobretudo quando a excelência da narrativa vinha a cair desde a quarta temporada de Phillips, que superou todas as expetativas e colocou a fasquia a um nível difícil de repetir. hype vai surgir, mas será que vai ter uma correspondência na qualidade?

A minissérie de «Dexter» vai agora viver muito na antecipação e no marketing do Showtime. Perante a concorrência feroz do streaming, o caminho dos canais é, muitas vezes, procurar repetir fórmulas bem-sucedidas no passado. No entanto, esta sobrecarga de expetativas nem sempre é feliz, uma vez que aumenta a exigência e nem sempre há a capacidade de corresponder. A confiança em Phillips para salvar a honra de uma obra que ajudou a tornar popular é muita, mas será que chega? Será que é possível reinventar um final que marcou uma era pela negativa?

Embora possa haver aqui um mea culpa que se revele uma solução para séries que deixaram os fãs desiludidos, há também uma possibilidade de fazer ainda pior. No entanto, há que torcer para que corra bem e, assim, outros êxitos que saíram na mó de baixo voltem para se redimir. Se há coisas certas na vida de um seriólico, é que se uma receita de sucesso funciona, vai ser replicada pela concorrência. [Já consigo ouvir os fãs de «A Guerra dos Tronos», que não gostaram do final, a caminharem quais white walkers rumo a mais uma petição].

Sara Quelhas

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