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Cowboy Bebop: à solta no Espaço, sem tocar o coração

Do anime para o pequeno ecrã com pompa e circunstância, «Cowboy Bebop» quer reimaginar o que de melhor oferecia a série japonesa do final dos anos 90. Para desgosto da audiência e da crítica, fica-se pela intenção.

COWBOY BEBOP (L to R) JOHN CHO as SPIKE SPIEGEL of COWBOY BEBOP Cr. KIRSTY GRIFFIN/NETFLIX © 2021

Voltamos à conversa do costume. Os canais e streamings continuam a tentar jogar pelo seguro, com apostas insistentes em fórmulas bem-sucedidas do passado, seja do cinema, da TV ou das comics. Ainda que a média diga que a tendência pouco tem compensado, a verdade é que, teimosamente, a cada novo leque de estreias lá vem um rol de sequelas, prequelas, reboots, etc. A Netflix não é exceção e entrega agora uma reinvenção de «Cowboy Bebop», com um protagonista e um universo muito queridos pelos fãs de anime. Mas, quando a concretização não convence, não há nostalgia que valha.

John Cho é o novo Spike Spiegel, no live action que procura ilustrar os feitos deste caçador de recompensas e dos seus companheiros pelo Espaço fora. O protagonista é introduzido com critério e alguma exuberância, interrompendo um assalto a decorrer num casino, com a ajuda do seu parceiro Jet (Mustafa Shakir). No entanto, depressa percebemos que a ação central do capítulo piloto é outra – uma droga misteriosa lança o pânico e Spike segue com Jet no encalço do responsável, contando com um obstáculo imprevisto: Faye Valentine (Daniella Pineda). Como depressa percebemos, a história do trio está longe de ficar por aqui.

COWBOY BEBOP (L to R) JOHN CHO as SPIKE SPIEGEL and DANIELLA PINEDA as FAYE VALENTINE of COWBOY BEBOP Cr. GEOFFREY SHORT/NETFLIX © 2021

Ainda que as storylines sejam interessantes, e apontem a similaridades com a série original, há pouca criatividade nos espaços onde se tenta inovar. As personagens são genericamente estereotipadas, robotizadas, e entregam-se pouco ao desenvolvimento da narrativa. A ação flui, assim, sem ritmo e demasiado suportada pelas ações de Spike que, embora protagonista, desequilibra totalmente «Cowboy Bebop». O Sindicato assume também aqui um papel fulcral, com uma ligação ao passado de Spike, mas nem o vilão (Alex Hassell) é suficientemente entusiasmante, caindo, novamente, no erro de caricaturizar em demasia o que se pretende da personagem.

A história de amor de Spike e Julia (Elena Satine) é entregue muito cedo na narrativa, sem que haja um trabalhar assertivo na sua concretização. Os flashes ocasionais, consolidados por “twists” cedo na ação, são criados demasiado no vazio, sem a consciência de que o espectador – nomeadamente aquele que vê «Cowboy Bebop» pela primeira vez – precisa de mais informação (e ligação às personagens) para manter o seu interesse. Isto porque não é um mistério suficientemente forte por si só, sendo até enfraquecido na sua conceção, e dando um lado mais irracional a Spike que, apesar de ser desenvolvido, é confuso a espaços.

COWBOY BEBOP (L to R) ALEX HASSELL as VICIOUS of COWBOY BEBOP Cr. GEOFFREY SHORT/NETFLIX © 2021

Retiram-se, naturalmente, coisas boas da nova série da Netflix. Vista como um elemento isolado, sem expectativas que condicionem a sua receção, «Cowboy Bebop» é uma trama divertida q.b. e com capacidade de entreter a audiência. Esta é uma criação de Christopher L. Yost, envolvido em projetos como «Iron Man: Armored Adventures», «Star Wars: Rebels» e «The Mandalorian».

Texto originalmente publicado aqui

 

 

Sara Quelhas

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