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Barry: o caminho da (auto) destruição

Tive acesso antecipado a sete episódios da última temporada de «Barry», que começa a escrever a sua história final amanhã, 17, na HBO Max. Sem revelar os spoilers da quarta temporada, escrevo sobre o que aí vem.

Tamanha foi a sorte de Barry (Bill Hader, criador juntamente com Alec Berg) ao longo das primeiras três temporadas, que era inevitável que esta um dia acabasse. Atrás das grades no arranque da quarta e última temporada, assim como Fuches (Stephen Root), o protagonista da série de comédia da HBO Max é levado ao limite, e vai amealhando rivalidades inesperadas e novas parcerias, que prometem mudar o jogo para sempre. Já outras personagens procuram encontrar caminhos alternativos, depois de sucessos ou tragédias avassaladoras, como principal ênfase em três velhos conhecidos: Gene Cousineau (Henry Winkler), Sally Reed (Sarah Goldberg) e NoHo Hank (Anthony Carrigan).

Enquanto Gene navega pelo heroísmo e êxito tardio, Sally tem de encontrar um novo fôlego numa carreira alternativa, como coach de atores, num dilema interno entre aquilo que é hoje e o que poderia ter sido; ao mesmo tempo que NoHo também tem várias provações pela frente. Em percursos de destruição, própria e/ou dos outros, as personagens de «Barry» vão começando a escrever o seu destino, deixando a perceção de que todos têm atitudes seriamente reprováveis… E a forma como lidam com elas confirma que, no final de contas, ninguém é totalmente boa ou má pessoa. Uma análise narrativa que espelha a visão social que também outras séries, como «Succession» ou «White Lotus», têm sobre o comportamento humano.

Barry mantém-se uma figura ambivalente, capaz das atitudes mais horrendas e dos gestos mais frágeis, mas longe da primeira temporada. O ar do protagonista é agora mais pesado, mais frio, e até mais facilmente reprovável (algo declarado se compararmos os posters das diferentes temporadas). No vértice da loucura, o assassino contratado tenta, uma última vez, assumir o papel de escritor da sua própria história, tentando controlar o seu futuro. Mas será que vai conseguir? E, se sim, continuamos com a mesma pergunta: até quando? No entanto, a possível redenção alastra-se a mais personagens, nomeadamente ao leque que já enumerámos, levantando uma nova questão: quantos vão conseguir?

Ao elenco já habitual, como Cristobal (Michael Irby), Jim Moss (Robert Wisdom) ou Leo Cousineau (Andrew Leeds), juntam-se ainda as participações muito especiais de Guillermo del Toro como “Toro” e de Sian Heder (CODA) a fazer de si mesma.

A imagem dos novos episódios assemelha-se a um precipício. Em algum momento, as personagens ficam em frente ao abismo, e é a direção em que dão o passo que as carateriza e determina o seu possível desfecho. Uma comédia negra, crua e profunda, que analisa também como a fama, a religião e a as pessoas podem afetar o nosso discernimento e destino. Uma viagem que foi bonita, mas que termina em breve. A ver na HBO Max.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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